quinta-feira, 20 de março de 2014

Capitulo 33 (parte I)

Olá meninas! Bem, finalmente mais um capitulo! Desculpem a demora, mas prnto, sabem que o tempo não me estende! Espero que gostem e comentem, e em breve postarei também o 2ºcapitulo da minha nova fic ''O melhor de nós''!
Besitos

P.s.- Bf (Filipa Gonçalves), este é especial, por isso delicia-te, ahah! Te quiero <3

Visão Rúben

Depois de jantar voltei para o sofá. O dia estava realmente a fazer-me sentir saudades do meu optimismo e até de ser o palhaço de serviço do grupo de amigos. Sentia-me tão estranho assim, de ânimo pesado, sem paciência para nada, aborrecido, e sobretudo, solitariamente triste. Estava a passar os canais da televisão quando o meu telemóvel tocou. Olhei para o visor e apesar da não-vontade, suspirei, antes de atender a chamada da Andreia.
-Sim - atendi, desprovido de qualquer contentamento na voz.
-Olá Rúben - disse. E imediatamente denotei o tom dócil e ao mesmo tempo nervoso na sua voz.
-Olá.
-Viste as minhas mensagens?
-Vi, mas sinceramente não estava com paciência para responder. Mas de qualquer maneira já estamos a falar, por isso sobre o que é que querias conversar?
-É sobre nós - hesitou.
-Uau, deves mesmo ter pensado como deve ser uma vez neste tempo todo, para decidir que precisamos falar sobre nós. Apesar de em todas as pseudo-conversas que temos tido até agora se perceber perfeitamente que não estamos bem e precisamos de conversar.
-Sim, pois, foi mais ou menos.
-Podes começar, então. Acho que aqui a única que tem algum pedido de desculpas a fazer és tu.
-Hm, é... É mais pedir que me perdoes. Eu... Eu errei.
-Ah, não me digas! Depois de tantos berros, disparates e insultos, finalmente percebeste! Vais fazer o mesmo com a tua suposta ex-melhor amiga?
-Ela não tem nada a ver com isto.
-Ai não? Que eu saiba as discussões entre nós começaram ainda no assunto da suposta traição dela ao Rodrigo, depois é que acabaram por ir nem sei por onde!
-O meu pedido de perdão não abrange o assunto deles. Continuo com a opinião que não a conheço apesar de tudo, e isso não vai mudar. Só nos abrange a nós os dois.
-Eu é que já estou a perder a noção se de facto te reconheço neste momento. Mas pronto, diz-me lá em que discussão é que começa? Na que me desligaste o telemóvel na cara pela primeira vez? Ou naquela em que vieste desculpar-te com a falta de tempo para te teres esquecido de me dar os parabéns?
-Eu pensei que íamos falar como adultos, mas estás a ter uma atitude contrária.
-Não estás a gostar que fale contigo como tu me tens feito, sem motivo aparente? Pois eu também não gostei nada e tentei fazer-te parar e pensar, mas foi preciso eu me afastar para perceberes isso.
-O que eu tenho para te dizer é importante.
-Ah, mas cuidar da nossa relação na altura devida não era importante? É que pareceu.
-Posso falar?
-Já falaste algumas vezes e ainda não disseste nada!
-Eu não estou a brincar, estou a falar a sério!
-E tu julgaste que andei a brincar este tempo todo?
-Eu traí-te! - disse de uma só vez. A agitação electrizante que me estava a fazer descer ao seu nivel de conversa dos últimos tempos estagnou subitamente.
-O quê? - perguntei, quase suspendendo a voz de tão baixo que saiu o som.
-Eu traí-te - repetiu. - E não foi só uma noite. - Não sei se foi do choque, da surpresa, mas não respondi nem questionei nada, fiquei ali apenas, mudo. - Foi com o Michael, o melhor amigo do melhor amigo da Mónica. Ele andava a atirar-se a mim desde que conhecemos o Zach, e na primeira vez que discutimos eu fui dar uma volta para espairecer e ele apareceu e viu-me naquele estado... e aconteceu. - E aconteceu, repeti mentalmente as suas palavras, borbulhando de indignação. Como é que estas coisas podem acontecer? - Não dizes nada? - perguntou, cautelosa.
-Queres que diga o quê? - respondi apaticamente.
-Não sei, qualquer coisa.
-É?  Então pronto, olha, parabéns, muitos parabéns por à mínima discussão te meteres na cama com o primeiro que te aparece à frente!  Ah, e espera, não foi só uma noite, não é? Foram quantas vezes após cada discussão? E os remorsos, ainda estão quentinhos no fundo da cama?
-Não sejas parvo, Rúben!
-Ai, não, espera, para além de cornudo agora também sou parvo? Por favor, Andreia!
-Não fales assim!
-Assim como? Quer dizer, para além de me traíres vezes repetidas, sem eu te dar quaisquer razões, ainda me vens ofender? Não é preciso, já me trespassaste o orgulho ao confessar as traições!
-Foi só com o Michael!
-Não me interessa, traíste-me, porra! Que motivos é que eu te dei para fazeres isso? Nenhuns! E essas coisas não acontecem! Se aconteceu foi porque tu quiseste, tu deixaste, não me venhas dizer que aconteceu, que aí nem a fragilidade assume as culpas!
-Eu não estou a tentar esquivar-me das culpas!
-Nem vale a pena tentares, porque a culpa é tua, só tua!
-Se calhar não foi só minha!
-Ai não? Foi de quem mais, então?
-Se calhar também é tua, em parte!
-Minha?! - ri sarcasticamente.
-Sim, tua! Estás tão longe de mim! E foste contraditório na tua opinião sobre o assunto do Rodrigo e da Mónica! Isso é que começou todas as discussões!
-E dizes tu que não estás a esquivar-te das culpas! Estamos longe, mas desde o inicio que esse obstáculo era sabido, se decidimos ficar juntos tínhamos pela noção de que tínhamos de ser fortes perante a distância! E o assunto deles, eu não fui contraditório, simplesmente errei e depois percebi e corrigi o meu erro! Tu é que deixaste que esse assunto nos afastasse! E já que estamos a falar neles, podias tomá-los como exemplo! A distância entre eles era exactamente a mesma que a nossa, e nem por isso algum deles vacilou, pelo contrário, tornou-os mais fortes, fiéis, apaixonados! E tu ainda andavas com moralismos na suposta questão de a Mónica o ter traído! Olha o que é que fizeste tu!
-Ai está a diferença, a distância era a mesma! Ela voltou, eles estão juntos agora!
-Nós também podíamos estar, se tu quisesses, e apesar de eu querer, não foi por ficares aí que desisti de nós! Mas acredita que se ela tivesse ficado, não tenho a menor dúvida que nada ia mudar entre eles! Eu pensei que o que nós sentíamos um pelo outro era suficientemente forte e puro, como eles, depois de tudo o que passámos, para suportar tudo o que se nos opusesse, mas estava enganado.
-E é!
-Não, não é. Até porque o nós desapareceu.
-Rúben, não digas isso! Eu preciso que me perdoes para ficarmos bem! Eu até estou disposta a voltar para aí, de vez, para ficar do teu lado!
-Não sacrifiques coisas desnecessárias, fica aí, vive o teu sonho, tentar ser fiel à tua nova aventura e sê feliz. E esquece-me.
-Não me peças isso, Rúben! - implorou, esganiçando a voz chorosa.
-Não estou a pedir-te nada, estou a dar-te uma sugestão útil, porque de mim não vais ter mais nada. O que eu quero é que a distância se mantenha, não te quero ver, arruinaste a admiração que sentia por ti, assim como tudo o resto. E agora se não te importas, tenho de desligar e afogar as mágoas e curara as feridas. - Desliguei a chamada. Permaneci alguns segundos vidrado no telemóvel, que após terminado o estado de dormência atirei contra a parede, acompanhado com um grito, seguido de lágrimas silenciosas.

Visão Filipa

O sonho com o Gonçalo persistia em perseguir-me. Escassos eram os minutos nos quais o mesmo não me vinha à mente, e estava prestes a endoidecer! Todos os entraves, quer da minha parte quer do Rúben demonstravam teimosia, e todos os prós e contras, todos os quereres e não-quereres estavam a deixar-me tonta de tanto rodopio na minha mente. Depois de ter jantado e arrumado a cozinha fui vestir o pijama e fui para o sofá da sala, enroscada numa manta, de livro na mão e com apenas o pequeno candeeiro na sala acesso. Acabei por conseguir focar-me realmente no livro e abstrair-me, porém, após quase uma hora de leitura, parei para descansar um pouco a vista e aí retornaram as memórias do sonho. Como é que era possível um sonho deixar-me assim? De repente, despertei do transe em que me tinha envolvido com os meus pensamentos, com o toque do telefone de casa.
-Estou?
-Filipa, é o Rúben – ouvi do outro lado. O meu pensamento imediato destinou-se ao sonho, porém notei-lhe a voz embargada, soava tão carregada e triste.
-Rúben – respondi. – Está tudo bem?
-Nem por isso. Eu queria… Estás muito ocupada?
-Não, não estou a fazer nada demais. Precisas de alguma coisa?
-Achas que posso ir ter contigo?
-Claro, sim, podes.
-Ainda bem, obrigado. Eu vou sair agora de casa, então.
-Sim, está bem. E ainda não sei o que se passa, mas, vem com cuidado, por favor.
-Sim, não te preocupes. Até já.
-Até já.
Depois de terminada a chamada não evitei sentir-me preocupada. A voz do Rúben estava tão preenchida de negativismo que me levou a pensar em inúmeras razões pelo seu estado, mas era desnecessário tentar adivinhar, pois não teria certeza da razão de igual modo, pelo que era obrigada a esperar que ele chegasse. Quarenta e cinco minutos de espera passaram de forma lenta, até que tocaram à campainha e após abrir me deparei de facto com o Rúben. Se a sua voz me soara mal, o seu aspecto caíra-me pior. O semblante triste era algo que não lhe assentava, simplesmente. Sem nenhum sorriso a oferecer, não parecia o Rúben. Tinha os olhos inchados e vermelhos, logo, tinha estado a chorar. Não dirigimos qualquer para um ao outro, simplesmente abrimos os braços e abraçamo-nos. Ele respirava pesadamente, tentando conter as lágrimas, enquanto o seu abraço permanecia forte. Assim que nos soltámos, fechei a porta de entrada e dirigimo-nos à sala, onde nos sentámos no sofá.
-Desculpa vir a estas horas – desculpou-se.
-Não tens de pedir desculpa. Eu quero é saber o que é que se passa contigo.
-Eu falei com a Andreia, hoje à noite. – Mantive-me silenciosa, para que ele pudesse continuar, porém, cada segundo que decorria mostrava cada vez mais a contenção dele para não chorar, o que me dava vontade de bombardeá-lo com perguntas de teor revoltado para com a namorada dele. Por fim ele continuou. – Ela traiu-me, mais que uma vez. – E após a confissão as lágrimas descambaram, silenciosas no seu rosto. Era tão doloroso vê-lo assim, a chorar. O Rúben era aquele que não aparecia sem um sorriso, e agora estava ali, a chorar.
-Oh Rúben… - disse, abraçando-o e deixando-o escorrer a alma ferida no meu ombro.

-O que é que eu fiz para merecer isto? Eu sempre fiz tudo por ela, sempre a respeitei, sempre a amei e dei-lhe o melhor de mim! Porque é que ela me fez isto? – chorava, fazendo perguntas, retóricas, certamente.
-Tu és uma pessoa incrível, Rúben, não te martirizes com o que possas ter feito, porque tenho a certeza que tudo o que fizeste foi bem, a errada aqui foi ela – ainda assim tentei acalmar as suas dúvidas ou desabafos.
-Mas ela traiu-me, mesmo eu sendo essa pessoa incrível, como tu dizes.
-É ela que vai ficar com remorsos se for capaz de se sentir culpada, não tu.
-Ai se vai! Que fique com eles metade da vida! Eu vou seguir em frente e ela que se remoa!
-É assim mesmo, Rúben! Aqui quem perdeu foi ela – concordei, aquando de soltarmos o abraço. Vislumbrei-lhe rapidamente um fraco delinear de um sorriso.
-Obrigado.
-Por quê?
-Por me deixares vir incomodar-te a estas horas com isto.
-Não tens de agradecer.
-Tenho sim. Quem é que atura uma pessoa como eu a chorar como um menino, quase à meia-noite? É preciso ter a paciência de uns quantos santos juntos!
-Não Rúben, é preciso apenas ser-se amiga deste rapaz incrível que todos conhecemos, mas que como toda a gente tem direito a chorar e a ter as coisas más para que são precisos os amigos.
-És muito minha amiga, então!
-Para tudo o que tu precisares.
-Agora a sério, obrig…
-Podes parar por aí que já passámos essa fase! – Ele gargalhou, o que me fez sorriso.
-Então e em que parte é que estamos agora? – sorriu, nitidamente melhor!
-Estamos na parte em que vamos fazer alguma coisa para nos distrairmos!
-Sugestões?
-Filme?
-Só se for uma comédia!
-Exactamente o que se precisa agora!
-Posso ir fazer as pipocas? – perguntou, sorridente.
-Já não há! Mas há outra coisa que serve! – Levantei-me e fui até um dos armários da cozinha. – Taramm! – sorri, erguendo dois pacotes de gomas.
-Perfeito! Vamos escolher o filme?
-Escolhe quem agarrar primeiro o comando! - brinquei. Ele olhou de imediato para a pequena mesa junto do sofá, onde habitualmente estão os comandos, porém não lá estavam.
-Onde é que estão? - perguntou, atento a todos os sítios. Sorri de forma a desafiá-lo, pois não iria dizer-lhe nada. Corri para o sofá, mirando uma das almofadas, atrás da qual estavam os comandos. Mas ele foi perspicaz e correu também, chegando lá primeiro. - Ganhei! Escolho eu! - sorriu, sentando-se no sofá.
-Batoteiro! - brinquei, sentando-me ao seu lado.
-Batoteiro? Tu não me disseste onde é que estavam, eu é que descobri!
-Sim, sim, descobriste depois de eu olhar!
-Ninguém te disse para evidenciares o lugar! Eu penso, sabes!
-Não me digas! - ri, ao que ele se juntou. Ele acabou por escolher o filme e durante todo o tempo rimos até nos faltar o ar e começarmos a chorar de tanto rir. - Meu Deus, já não chorava de tanto rir há muito tempo!
-Também eu! Acabaste de me providenciar uma boa noite de sono! Se tivesse ficado em casa sozinho ia dormir super mal!
-Por falar em dormir...
-Ah, queres ir deitar-te? Eu vou andando então...
Não, não é isso!
-Não?
-Não. É que eu... Esquece.
-Não, não esqueço. Diz lá.
-Não sei se é apropriado falar disto neste momento.
-Porquê? O que é que tem?
-Porque tu estás como estás e não quero que fazer nada que..
-Importaste de dizer de uma vez? Sou teu amigo, não sou? Então pronto, agora é a minha vez de te ouvir.
-Mas...
-Filipa - pronunciou, olhando-me de forma a eu entender que estava realmente apto para falar-lhe.
-É que eu sonhei com o meu ex-namorado, o Gonçalo.
-Eu a pensar que tinhas sonhado comigo! - gozou, rindo e fazendo-me rir.
-Mas é que ele falou comigo, sobre ti.
-Sobre mim? Como assim? Olha, se ele te disse que sou má companhia, desacredita-o! Posso ser o palhaço de serviço para toda a gente, mas má companhia garanto que não sou!
-Eu sei! Ele disse exactamente o contrário.
-Ah, então pronto, ele tem razão! Mas já agora conta-me lá quais foram os elogios que ele me deu!
-Nós falámos sobre... sentimentos.
-Sentimentos? - perguntou, modificando a sua expressão jocosa por uma postura mais séria e integra.
-Ai, estás a ver? Eu não quero falar sobre isso agora, tu acabaste de sair dessa confissão, desse assunto com a Andreia, não quero que voltes ao estado em que cá chegaste!
-Tem a ver com o nosso beijo?
-Tem...
-Então vais contar-me. - Acabei por ceder e contar o meu sonho. - Então é verdade? Gostas de mim?
-Sim. Quer dizer, não. Quer dizer, não sei!
-Sim ou não?
-Acho que sim. Mas é que isto é tão estranho.
-Como ele disse, é épico. E se é épico é verdadeiro e vale a pena.
-Não, não, não Rúben. Não. Tu acabaste de saber que a Andreia te traiu, acabaram há umas horas, tu estás confuso, eu não me sinto preparada para assumir nada.
-Sabes o que é o desgaste? - perguntou de repente, pacientemente.
-Hã?
-Os sentimentos também se desgastam, e os meus já ruíram. Eu sinto-me revoltado com o que ela me fez, foi a questão do desrespeito da parte dela, mas o coração só sofreu a desilusão por perder a consideração por ela. Enquanto eu fiz trinta por uma linha para a conquistar e ela me afastava, era verdadeiro o que eu sentia, e quando ela finalmente se desarmou acredita que o meu coração deu pulos de felicidade, mas as coisas má também contam, cansam, desgastam, e neste caso foram levando o que eu sentia por ela. Não sei se foi Deus, o Destino ou fui eu através das minhas escolhas e atitudes, mas agora acredita que depois de afogar as lágrimas com risos, contigo, sinto-me aliviado por ter acabado com ela, porque estava a começar a deixar de ser eu mesmo, e se há algo que nada nem ninguém vai ou pode mudar é quem sou. E contigo eu sou eu, sempre.
-E apaixonaste-te por mim agora? - tentei ironizar algo que me soaria como uma espécie de lamuria.
-Na verdade acho que foi com o teu sorriso, quando nos conhecemos, à porta do bar do Estádio. Agora as coisas ficaram muito mais claras.
-Claro, ideias claras é o que tu deves ter mais neste momento!
-Deixas de ser irónica?
-Neste instante não consigo, desculpa!
-É assim tão difícil de acreditar?
-É difícil de assimilar. Eu tenho medo que isto tudo seja a quente e amanhã tenhas as ideias todas ao contrário!
-Não vou ter, confia em mim.
-Está bem, vou tentar... Mas mesmo assim, mesmo que acredite, mesmo que queira estar contigo, eu acho que ainda não estou preparada para assumir nada.
-São coisas da tua cabeça, não foi o que o Gonçalo disse no sonho?
-Não consigo.
-Ok. Mas não precisamos assumir nada. Podemos estar juntos, sem rótulos, sem ninguém saber.
-Não tens idade para esconder essas coisas - acabei por rir.
-Estás a chamar-me velho?
-Não. Mas estas coisas costumam ser os adolescentes a protagonizar.
-E eu quero lá saber! Se te sentires bem com isso, se quiseres, eu estou plenamente disposto a isso!
-Isto é estranho.
-É sempre estranho no principio. Mas como diz o ditado, primeiro estranha-se, depois entranha-se.
-Mas queres mesmo começar... - Não terminei a pergunta. pois ele reduziu a distância entre nós, beijando-me gentilmente.


-Já comecei! Se quiseres começar, só aceito respostas do mesmo género! - sorriu, ao que mostrei também um sorriso e beijei-o de volta. A tempestade tinha passado, a bonança tinha chegado.

Visão Mónica

Depois de tomar banho e me vestir fiquei com Doni, enquanto o Rodrigo se foi despachar. Desci com o Doni até à cozinha onde a Mariana estava a começar a preparar o pequeno-almoço.
-Bom dia - sorri-lhe, pousando o Doni no chão.
-Bom dia - sorriu de volto. - Olha, desculpa essa coisa hoje de manhã.
-Esquece isso, Mariana, a sério.
-Ai, mas foi mal. Eu tava parecendo uma mãe muito chata e embirrante! - riu.
-Só um bocadinho - ri também.
-Rindo do quê, as minhas meninas? - perguntou o Rodrigo, chegando à cozinha. Foi dar um beijo, na testa, à Mariana, e depois acercou-se de mim, abraçando-me e dando-me um beijo também.
-Gente, vamo parar que o café da manhã tá pronto - disse a Mariana, sentando-se à mesa. Igualámos-lhe o gesto e começámos a comer, por entre conversa.
-Amor, daqui a pouco vou sair um pouquinho - disse-me o Rodrigo.
-E vais onde, posso saber?
-Na verdade nem pode!
-Ai, então porque é que me disseste? Agora fiquei curiosa!
-É segredo!
-A sério? Não tinha percebido! - ironizei.
-Não fica assim, sua boba! - riu ele, fazendo-me um carinho rápido no nariz.
-Mas eu fiquei curiosa, amor!
-Tá, eu te dou uma pista! Seu aniversário tá chegando!
-Ai Rodrigo, não vale, posha! - choraminguei.
-Eu vou tentar ser rápido, meu amor! - disse, levantando-se da mesa e colocando a sua loiça no lava-loiça.
-Já vais? - perguntei-lhe.
-Vou! - respondeu, dando-me um beijo de despedida.
-Eu vou sair com você, Rodrigo! - disse-lhe a Mariana, levantando-se também da mesa.
-Vou ficar sozinha? - perguntei, apesar da evidência da resposta, desanimada.
-O Doni não vai sair de casa! - riu a Mariana.
-Olha, pois!
-Amor não fica assim, daqui a pouco eu volto!
-Está bem, pronto - acabei por concordar. Eles saíram de casa e depois de levantar a mesa e arrumar a cozinha fui para a sala. Estava a sentir-me tremendamente sozinha, ajudando ao facto de o Rodrigo me ter deixado completamente curiosa, e nem a doce companhia do Doni estava a surtir efeito, por isso decidi ligar à Filipa. Hoje havia jogo na Luz com o Vitoria de Setúbal e como estávamos de folga tínhamos combinado, juntamente com a Mariana, ir ver o jogo, mas decidi confirmar tudo com ela, apesar de ser mais uma desculpa, simplesmente para fazer conversa e combater a ansiosidade e solidão que se me ocorriam no momento. Porém o esperado ''Ola'' alegre que deveria ouvir do outro lado da linha foi simplesmente substituído pela continuidade dos toques de chamada, finalizando na caixa do voicemail. Tentei mais uma vez, um tempo depois, mas a situação igualou-se.
-Hoje ninguém me faz companhia, já viste Doni? - falei para o pequeno animal, que se encostou a mim e me deu uma lambidela na mão. - Sim, pronto, tu estás aqui, mas é diferente da companhia das pessoas - disse-lhe, aborrecida, resignando-me com a televisão. Felizmente, não muito tempo depois, ouvi porém a chave na porta.
-Oi! - sorriu o Rodrigo, chegando à sala.
-Voltaste - indaguei, ainda possuindo um tom algo aborrecido.
-Hm, não, só deixei meu corpo entrar, o resto ficou lá fora - sorriu.
-O resto? Que parvo! - acabei por rir.
-Ainda tá bolada de eu ter ido embora e você não pôde vir, bobinha? 
-Não, ainda estou é curiosa para saber o que é que foste fazer, mas chateada não! Estou aborrecida e estava a sentir-me sozinha!
-Hm, então olha, pra não voltar a se sentir sozinha, vai pegar um casaco e a sua mala e vem comigo! A gente vai ter treino agora também por causa do jogo de logo e as meninas também vão ficar pelo Estádio, pelo menos algumas delas vão, então você fica com elas. E pode chamar a Filipa também, vocês vão ver o jogo logo, não é?
-Sim, e a Mariana também.
-Sim, mas bom, ela agora foi ficar um pouquinho com o Mauro.
-Bem, está bem, se a Filipa me atender eu digo-lhe para ir lá ter, se não fico só com as raparigas.
-Se ela atender?
-Sim, ela não me estava a atender à pouco.
-Mas tá tudo bem?
-Sim, acho que sim, chama mas ela não atende, se calhar ainda está a dormir, ela ontem também foi fazer as mudanças, deve estar cansada.
-É, deve tar tudo bem mesmo. Vamo embora, então?
-Vamos - concordei, dando uma festa no Doni, e depois de ir buscar as minhas coisas eu e o Rodrigo saímos para o seu carro.
Chegámos ao Estádio e o Rodrigo foi comigo ao bar do mesmo, onde estavam os jogadores e as suas respectivas namoradas/esposas, pois ainda faltavam 10 minutos para o treino.
-Oi gente! - cumprimentou o Rodrigo, sorrindo como é habitual e acenando com a mão no geral. Eu sorri simplesmente
-Tu novia guapa ha venido, eh! - sorriu a Tamara, esposa do Garay.
-Cariño, sabéis que vosotras nos dan mucha suerte y inspiración! - replicou o Garay, conquistando um beijo da Tami enquanto se ouvia um ''ohhh'' devido ao gesto e simultaneamente concordando com o que o Ezequiel tinha dito.
-Verdad, todos lo sabéis como eres! - sorriu o meu namorado, aconchegando-me mais junto de si.
-Gente, isso tá tudo muito bom aqui, mas o dever tá nos chamando! - informou o Luisão. Todos se despediram das suas meninas, acatando a necessidade de execução do dever.
-Antes do jogo eu passo lá no camarote pra te dar um beijo e escutar o seu ''boa sorte'', visto que nem na hora de almoço a gente se vai ver - sorriu-me o Rodrigo, dando-me um beijo.
-Está bem, bom treino amor - desejei.
-Obrigado meu bem, e se diverte, hein. Não esquece de tentar ligar de novo na Filipa.
-Ah, sim, é verdade, vou ligar-lhe agora! - Ele seguiu o resto dos colegas e eu voltei a marcar o número da Filipa e tentar que ela me atendesse novamente. Enquanto ouvia os primeiros toques de chamada, , o Rúben chegou a correr ao bar.
-Olá pequenina! - sorriu, dando-me um beijo na testa. - Eles já foram, não é?
-Acabaram de sair daqui, se correres mais um bocadinho apanha-los.
-Obrigado! Deseja-me sorte!
-Para o treino.
-Sim!
-Boa sorte! - acabei por rir. Ele mostrou-me um enorme sorriso, algo que andava raro de aparecer no seu rosto há algum tempo. - Rú, estás bem?
-Não se vê? - sorriu genuinamente, acabando por piscar-me o olho e prosseguir correndo na direcção que os companheiros haviam seguido.
-Se se vê! - sorri já sozinha, sendo surpreendida pela voz da Filipa do outro lado da linha.
-Desculpa não ter atendido as tuas chamadas! Eu estive ocupada!
-Olá!
-Olá, desculpa!
-O teu ocupada e tanta vez a pedires desculpa estão a soar-me a felicidade, juntamente com esse tom animado!
-Bem, sim, estou feliz!
-Então vá, nome e apelido! - pedi sem cerimónias.
-O quê?
-Nome e apelido! Juro que se te ouvisses ias perceber logo porque é que estou a pedir-te o nome e apelido! Ou vais dizer-me que não há razão ambulante aí no meio?
-Ai, pára com isso! - riu.
-É verdade! - constatei com tal reacção.
-Oh! Mas o que é que me queres, afinal?
-Bem, as duas primeiras chamadas foram porque me deixaram sozinha em casa com o Doni e estava a sentir-me sozinha.
-O Doni?
-Ah, pois, tu ainda não sabes do Doni! É o cachorrinho que dei ao Rodrigo, é tão lindo!
-Hm, está bem, depois quero vê-lo! Mas então e o resto das chamadas?
-Foram porque vim para o Estádio com o Rodrigo, vim ter com as meninas, não podemos assistir ao treino porque há o jogo logo, mas vamos ficar todas já por aqui e eu ia perguntar-te se não te querias juntar também!
-Mas o treino já começou, não já?
-Sim, mas não há problema nenhum se vieres agora, como é óbvio.
-Bem então vou só arranjar-me e apanho um táxi para aí.
-Boa! Até já, então!
-Até já! - Assim que desliguei a chamada tinha a Magali, esposa do Salvio, atrás de mim.
-Hola guapa! - sorriu-me.
-Olá! - devolvi o sorriso.
-Por qué no te quedas con nosotras? Tenemos una chica nueva en el grupo, la nueva novia de Nico!
-A sério?
-Si! Yo ya la conocía, se llama Dulce e es portuguesa, es un doce, se darán muy bien, verás! - informou-me, enquanto nos dirigíamos para o grupo das meninas.