sábado, 14 de setembro de 2013

Capitulo 29 (parte II)

Olá meninas!
Então, aqui está mais um capitulo! Espero que gostem tanto quanto eu gostei de o escrever! E já agora, já sabem, deixem os vossos comentários, sim?

Besos
Mónica

Visão Mónica

Não parecia real outra vez! Tive tanto medo, mentalizei-me tão erradamente que ia ser o fim, que agora que o mesmo não chegou, não parece real! Aquele sufoco no peito, a vontade de não estar, não ser, não existir, já tinham quase desaparecido! Sim, quase, porque o assunto da Andreia e as palavras do Rúben não desapareceriam tão facilmente.
-A Mariana berrou assim que eu falei que a gente tinha se entendido! - riu o Rodrigo, voltando para junto de mim.
-Que querida! - ri também.
-É, ela me puxou muito pra eu tomar a decisão de vir aqui falar com você!
-Posso dizer-te uma coisa, e não ficas chateado? - Ele ergueu a sobrancelha, duvidoso acerca do que se seguiria, acabando por responder que sim. - Ela ligou-me, na noite em que o Rúben te ligou. E eu sei que tu não querias, ela disse-me, mas para que saibas, ela foi a única que se dedicou a ouvir-me, na altura, e ficou do meu lado. Ela foi o meu único apoio. Não te zangues com ela.
-Eu não vou me zangar. Agora eu fico é muito agradecido que ela tenha feito na mesma, porque assim você sempre teve alguém do seu lado quando todo mundo virou costas pra você! Sem falar que foi ela que contribuiu muito pra eu chegar na conclusão que eu precisava vir aqui!
-Ainda bem, acredita que ela fez isso para nos ajudar. Ela faz tudo para te ver feliz!
-Eu sei que faz, ela sempre fez. Parece que ela que é a irmã mais velha, sempre me tentando proteger, me ajudar!
-Tu também fazes isso por ela, só que, feliz ou infelizmente, não sei, tu tens precisado mais disso que ela.
-É, eu tenho é muita sorte mesmo de ter uma irmã como ela!
-Tens mesmo!
-E agora eu posso acrescentar que para além de uma família fantástica, eu tenho uma namorada maravilhosa!
-E eu tenho saudades tuas! - declarei, abraçando-me a ele com força.
-E eu de você, meu amor! - correspondeu ao abraço de igual forma.
-Até quando é que ficas cá?
-O Mister me deu uma semana, mas eu não preciso de tanto tempo. Apesar de eu querer muito ficar aqui essa semana com você, eu quero, e preciso muito voltar, fazer os melhores treinos da minha vida pra voltar a ser titular!
-Sim amor, vai! Nós já estamos bem de novo, por isso agora tens de endireitar a tua carreira!
-É, mas eu não vou amanhã não, vou só depois de amanhã. Já que eu tenho esses dias vou aproveitar um pouquinho! - sorriu.
-Acho que vais poder aproveitar mais do que ''um pouquinho''...
-Como assim?
-Eu vou passar os dias que cá passares contigo.
-Sempre que você puder, eu quero!
-Vou puder muito tempo, tirando só quando estiver na Faculdade.
-Mas e o seu emprego? Tá de férias?
-Não, a menos que queiras chamara-lhe férias prolongadas até nova solução.
-Você perdeu o emprego? - perguntou surpreendido.
-Despediram-me.
-Mais alguma coisa correu mal pra você? É que desde que essa confusão começou a gente tem tido pouca sorte!
-Foi a falta de empenho, a falta de vida. Mas agora já estamos bem de novo, eu já estou bem, tu já estás bem, por isso agora é recuperar o tempo perdido!
-É... E por falar em tempo perdido... Aqui não vai dar pra eu dormir, né?
-Mesmo que desse eu não me sentia bem em deixar-te neste ambiente, para isso chego eu.
-Mas você também não tem que tar aqui.
-Ai não? Vou viver para onde? Para de baixo da ponte?
-Não sua tonta, eu tava falando desses dias que eu vou tar aqui com você.
-E estás a pensar no quê?
-Alugar uma casa ou um apartamento ou qualquer coisa assim não vale a pena, por isso, a gente vai pra um hotel!
-E tu és rico e eu milionária!
-Eu não sou rico, mas consigo suportar despesas assim. E tudo o que é meu é seu também.
-Já casamos e eu não descobri como?
-Você quer casar comigo?
-Não agora.
-Mas quer.
-Talvez - sorri matreiramente, deixando-o curioso.
-Tá falando sério?
-Eu disse talvez, não disse nem sim nem não. Ainda é cedo.
-Mas você imagina isso acontecendo? Nós dois...
-Às vezes, mas sabes que sonhar deve ser constante na nossa vida, por isso, tem calma...
-Tá... Mas mesmo assim, eu falei sério quando falei que o que é meu é seu também.
-Foste muito querido.
-Eu sou.
-Está bem, pronto, eu concordo - sorri antes de receber um pequeno beijo.
-A gente pode ir embora agora? Eu quero aproveitar com você, e a gente ainda tem que procurar o hotel.
-Sim, deixa-me só preparar uma mala com algumas coisas.
Depois de arrumar o que precisava saímos do quarto, de mão dada.
-Vão sair? - ouvi a Andreia perguntar, quando terminávamos de descer as escadas.
-Sim, e só volto daqui a dois dias.
-Ai vais voltar? - Eu respirei fundo e revirei os olhos, contendo uma resposta. - Onde é que vão?
-Para que é que queres saber?
-Há problema se me disserem? Eu não vou atrás de vocês.
-Não é da sua cinta, e agora a gente vai indo. Tchau. - disse o Rodrigo rapidamente e levou-me consigo até à entrada saindo logo de seguida.
-Revoltado?
-Tenho razões pra tar, né?
-É...
-Mas vai, vamo esquecer essa gente toda agora e vamo pensar na gente!
-Eu estava mais a pensar em ti... - respondi, chegando o meu corpo para mais junto do seu, enquanto caminhávamos pela rua.
-Ai é? E cê tava pensando em mim como? - desafiou-me.
-Queres que te diga agora ou preferes que te demonstre depois? - respondi, sorrindo com o mesmo tom desafiador, olhando para ele.
-Eu sou mais afim de demonstrações. Por isso vamo logo pra eu não esperar muito - gargalhei e continuamos caminho até à paragem de táxis mais próxima e cerca de 25/30 minutos de percurso o taxista deixou-nos no Lamb Hotel, em Ely.
Parecia agradável. Assim que entrámos estava uma senhora na receção, onde o Rodrigo tratou de fazer a reserva.
Assim que nos deram a chave e nos indicaram o caminho, seguimos para o quarto onde íamos ficar.
Ele abriu a porta e deu-me passagem.
-Mais um bocadinho e alugavas o quarto da realeza! - ri.
-Pra você eu dou sempre o melhor, meu amor! Eu não sabia como que era o quarto, mas se adequa, você é a minha princesa, logo o quarto tem de ser de acordo!
-Ohh, tão querido, amor! - sorri, dando-lhe um beijo, que ele não deixou  terminar tão cedo, puxando-me deliciosamente para mais junto dele.
-Tou com muita saudade sua, por isso se prepara pra se cansar de mim e dessa cama - falou, arrepiantemente sedutor ao meu ouvido.
-Mas achas mesmo que eu me vou cansar, seu fraquinho? - brinquei, provocando-o.
-Eu adoro suas piadas, sabe? - riu, enquanto eu me afastava até uma cadeira que estava no quarto, para deixar a minha mala.
-Mas não é nenhuma piada, é a sério! - tentei não me rir para parecer convincente.
-Ai é? Eu que sou fraquinho? Deixa eu te tocar e cê vai ver! - riu, começando a aproximar-se de mim.
-Isso é suposto ser um desafio, menino? É que se quiseres, experimentamos os dois para ver quem é que é o fraquinho.
-E o que é que você ia me fazer? - sorriu, parando à minha frente. Aproveitei a proximidade para lhe dar um exemplo e chateá-lo um bocadinho. Aproximei-me mais ainda dele, e despercebidamente deixei a minha mão ir ao encontro da pele da sua barriga, por baixo da sua camisola.
-Caraca, cê tá gelada! - gemeu, afastando-se rapidamente.
-Viste1 E depois ainda dizes que eu é que sou a fraquinha! Tenho ou não tenho razão? - disse, aspirando um ar altivo, mas desmanchei-me a rir no segundo a seguir.
-Tá pronto, essa cê ganhou, mas agora é a minha vez! - riu.
-Vê lá o que é que fazes! - disse, enquanto ele se aproximava novamente.
-Ai agora tá com medo? Você também não avisou, não! - sorriu, provocando-me já com o seu olhar. Assim que se encontrou suficientemente próximo puxou-me algo bruscamente contra si, o que me alterou desde logo, mas tentei mostrar-me imparcial. - Isso é só um comecinho, tá? - falou ao meu ouvido, delineando um sorriso nos seus lábios, que foram ao encontro do meu pescoço, onde depositou um beijo, mas ao sentir os seus dentes roçarem prazeirosamente na pele não consegui conter um pequeno gemido. Ele sabia tão bem como e onde fazer as coisas... Ele recolheu um sorriso vitorioso no rosto, que me encarou de seguida, sem me desprender da proximidade do seu corpo. - Fraquejou ou não fraquejou, hein?
-Golpe baixo, amor...
-Não foi baixo não senhora, baixinha é você - riu. - Eu te toquei muito em cima, já você fez o contrário!
-Queres que te toque mais em cima, é?
-Você toca onde você quiser, depois só não reclama de onde eu toco! - voltou a rir.
-É?
-É.
-Então despe-te.
-Quê? - perguntou um pouco confuso, porém exibindo um sorriso.
-Despe-te - repeti sorrindo também.
-Pra que é que cê quer que eu me dispa se você ainda tá vestida? - sorriu aliciantemente, enquanto puxava a camisola pelo pescoço, jogando-a de seguida em cima da cadeira onde eu havia deixado a minha mala.
-Já vais ver - respondi, puxando-o pelo cós das calças e desapertando-lhe o botão. Ele suspirou ansiosamente.
-Isso não é justo, viu. Eu aqui sem roupa, você me ajudando a ficar sem ela, e você vai ficar assim? Posha... - reclamou, desfazendo-se das calças, após ter feito o mesmo rapidamente com os ténis e as meias.
-Não te passes, vá - sorri, levando as minha mãos à minha camisola para despi-la.
-Não vai me deixar fazer? - pediu, olhando-me como que a pedir que o deixasse.
-Vais ficar mais feliz?
-Vou.
-Então força - sorri, ao que ele me mostrou um sorriso maior. Elevei os braços para que ele pudesse tirar-me a camisola, o que ele fez entusiastamente.
-Se eu te pegar eu não vou te largar mais... - murmurou, desapertando-me as calças.
-Mas tu não me vais pegar amor, vais despir-me, só. - Ele suspirou pesarosamente, descendo-me as calças. Livrei-me delas e dei um rápido beijos nos lábios do meu namorado, que se manteve imóvel, penso que para fazer o contrário da sua vontade. - Deita-te, de barriga para baixo - pedi-lhe, após no conduzir até à cama.
-Que é que você vai me fazer?
-Uma massagem.
-Uma massagem?
-Sim - sorri. Ele deitou-se como lhe havia pedido, colocando os braços fletidos também em cima da almofada. Ao olhá-lo ali estendido tomei uma grande lufada de ar para me conter, antes de subir para a cama e me sentar em cima dele.
-Amor?
-Sim? - respondi.
-Tá fazendo muita pressão.
-Onde?
-Se você tá sentada em cima da minha bunda, onde que cê acha?
-Hmm... Queres que me sente onde, então?
-Quer que eu te responda mesmo? - perguntou, virando a cabeça ligeiramente para encontrar contacto visual comigo.
-Nã, nã, nã, nem penses, é a minha vez, sabes?

-A sua vez de me torturar, né?
-Ai e tu não fizeste o mesmo, oh?
-Eu? Só te dei um beijo - fingiu-se inocente.
-Cala a boca mas é para eu começar! - sorri.
-Tá, mas olha, vê se não faz muito gostoso se não eu caio no sono - riu. Eu dei um pulinho em cima dele, de propósito.
-Parvo!
-Ai amor, posha, não pula assim! - não consegui evitar rir-me, e ele também o fez. - Tá, eu paro, mas agora falando sério, pode fazer o que você quiser, mas não demora!
-Está bem, pronto - acedi ainda a rir. Respirei novamente fundo.
-Isso, respira que vai precisar! - sorriu ele.
-Rodrigo!
-Quê? Só falei a verdade! Cê ainda não tá mentalizada que eu sou todo seu, eu entendo, tem vezes que eu também penso o mesmo de você!
-Ai pá, tu às vezes parece que me lês os pensamentos, e depois deixas-me sem jeito! - sorri, saindo de cima dele, deixando-me cair do seu lado na cama.
-Não fica assim, vai amor1 Que é isso agora, hein? - disse ele num tom carinhoso, passando o seu braço por cima da minha cintura e encostando-se a mim. - Não vai fazer a minha massagem, né? Então dá licença que é a minha vez! Pode se virar, por favor? - pediu, sorrindo gentilmente, ao que eu acedi sem uma palavra. Ele acomodou-se, desviou o meu cabelo e em seguida a pressão pareceu evaporar dos meus ombros, ao aproveitar a massagem. Mas a pressão deu lugar à tensão, novamente, porém uma tensão diferente à que havia evaporado. Há medida que as suas mãos desciam pelas minhas costas eu derretia mais e mais. O sei simples toque abarcava-me em desejo.
-Tá gostando?
-Não tens noção do quanto.
-Pode crer que eu tenho - senti-o sorrir, enquanto movimentava os dedos em círculos no fundo das minhas costas. - Agora posso te virar pra mim e te beijar, ou vai reclamar sua vez?
-Não, não vou reclamar nada - respondi, virando-me de barriga para cima e estendendo-lhe as mãos para que ele me viesse beijar finalmente.
-Já não era sem tempo, viu! - sorriu.
-Cala a boca e beija-me, se faz favor! - ri.
-Muito mandona, você hoje, hein? - sorriu. Sorri-lhe de volta e por fim juntámos os nossos lábios. E aos lábios juntou-se tudo o resto. A pressa da saudade deixou-nos numa confusão enlouquecedora, que nos tirou rapidamente o fõlego, mas que nem por isso nos fez separar. Na confusão desapegada as últimas peças de roupa deixaram-nos, e os toques ansiosos e desejados sentiam-se cada vez mais, exasperando o controle e a paciência.
-Amor, deixa eu pegar a minha mala - pediu resfolegando.
-Para quê, amor? - perguntei quando ele saiu da cama.
-Pra que é que cê acha, amor? Acha que eu vinha desprevenido pra junto de você? - respondeu, tirando a caixa de preservativos da mala. - Pra mim você é sempre uma tentação, mesmo que a gente esteja chateado - sorriu, voltando novamente para junto de mim. Sorri-lhe enquanto tentava restabelecer algum controlo na respiração, mas não fui sucedida, porque segundos depois já tinha os seus lábios e todo o seu corpo de encosto no meu. A noite virou madrugada, e fiquei realmente cansada, mas nunca cansada daquele homem que me elevava para lá do paraíso.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Capitulo 29 (parte I)

Visão Rúben

Por mais que todos tentássemos, não resultava, o Rodrigo estava na mesma. Sem um sorriso, uma brincadeira, os treinos eram muito abaixo do habitual. Perdeu a titularidade em quatro jogos, e ninguém estava contente com isso. Por mais ideias que tivéssemos nada parecia resultar. O Mister falava muito com ele, assim como eu e a Mariana, mas pelos vistos, dos três, eu era o único a tentar fazê-lo seguir em frente. Todos dias ia com ele para casa e ficava lá com ele e com a Mariana, e de vez em quando o Mauro também se juntava a nós, jantávamos, conversava-mos e depois eu e o meu irmão, quando ele ia, íamos embora. Todos os dias falava com a Andreia. Contava-lhe como corriam os dias e falava-lhe de todas as nossas tentativas frustradas para tentar animar o Rodrigo. Eu estava a começar a desesperar! Tinham passado duas semanas, e não havia nada que o fizesse melhorar! Era o lado mau do amor. Quando está tudo bem irradiamos felicidade, parecemos as pessoas mais felizes do mundo, mas se algo corre mal, se tudo acaba, a nossa vida parece que chega a um fim também. De certa forma sentia-me impotente, por ver o meu amigo tão mal e nada do que eu fizesse ou dissesse surtisse o efeito desejado.

Visão Mónica

A minha presença apenas se impunha pelo facto de o meu coração ainda bater e eu ser obrigada a viver, porque o meu pensamento, a minha vontade, a minha determinação e alegria não estavam. Sentia-me tão pequenina, tão insegura, tão sozinha. Tinham passado duas semanas, e o Bruno e a Justine já tinham regressado a casa, mas nem por isso o novo clima e forma de estar entre mim e a Andreia se modificou. Mal comunicávamos, andávamos sempre de animo triste uma com a outra, enfim, partilhávamos o mesmo espaço por necessidade. Desde aquela conversa depois de ela ter voltado do aeroporto não tínhamos voltado a tocar no assunto, ou melhor, nos assuntos que haviam feito parte da mesma. Já não a sentia como a Andreia que havia vindo comigo para Londres, com a amiga que sempre se prostrava ao meu lado para me dar apoio, não a sentia como a minha melhor amiga. E de facto já não o era.
E um grande e entusiasmante acontecimento: tinha sido despedida. Ou seja, era a única que não estava a pagar as contas da casa, e eu era a única que não fazia parte da família. Agora sentia que estava ali por favor.
-Vais passar os dias sentada no sofá? Sabes que o dinheiro não cai do céu, embora aqui chova muito! - disse a Andreia, após ter pousado a mala no sofá, vinda do trabalho. Eram 17.00h.
-Acabei de chegar de uma entrevista, à pouco.
-Hm - balbuciou, não com boa cara. - Eu vou tomar banho. Tiraste alguma coisa para fazer para o jantar?
-Se cheguei há pouco achas que tirei?
-O meu primo e a Justine vão jantar fora hoje, por isso tira só para ti que eu arranjo-me.
-Como quiseres.
Ela subiu as escadas e fiquei novamente sozinha naquela divisão da casa. O que passava na televisão não era interessante, pelo menos neste momento. Nada me suscitava interesse agora, nada fazia o meu coração acelerar o ritmo, nada me fazia tremer de ansiedade... Só ele. E ele não estava. Nem presente, nem à distância de uma chamada. E ao lembrar-me de pequenos momentos acabei por ser atingida por um pesar gigante que me fez desmanchar num choro sufocante. Mas obriguei-me a parar, não queria chorar em frente de ninguém, e agora menos ainda em frente da Andreia, que se pudesse talvez me mandasse novamente à cara falsas acusações. Limpei as lágrimas, acalmei os soluços e foquei-me na televisão para tentar abstrair-me e deixar de pensar concretamente durante algum tempo.

Visão Rodrigo

Durante as duas semanas que passaram perdi muito, começando com ficar fora até dos convocados no quarto jogo que já não era titular. Mas apesar de parecer tudo um pesadelo, que tava me arrastando num estado de espirito que não era meu, tive muito tempo pra pensar. Mas pra pensar bem, em tudo, com calma... Pra pensar nos meus sentimentos intermináveis por aquela garota, pensar em tudo o que a gente tinha vivido junto, todas as palavras, todos os olhares, todos os gestos, avaliar a sinceridade que tudo isso emanava, cada detalhe.
-Tá vendo Rodrigo, ele tá zoando comigo! - se queixava a minha irmã, do banco de trás do meu carro.
-Achas que sim, Mariana? Então, eu só estava a constatar um facto, ou não? - zoou o Rúben com ela, novamente. Enquanto escutava, de fundo, as baboseiras deles, ao conduzir, depois do treino, pra minha casa, continuei pensando, como já era normal. Eu costumava ser tão o mais alegre como aqueles dois. Isso tava me fazendo falta pra caramba, porque eu já nem tava me reconhecendo, sempre de semblante triste, envolto em pensamentos desgostosos... Eu tinha de fazer alguma coisa, não podia passar a minha vida nesse estado. Eu tenho que lutar pela minha felicidade. E com esse pensamento eu assumi uma decisão. Eu precisava disso.
-Então e o jantar hoje está nas mãos de quem? - perguntou o Rúben, sorrindo, assim que a gente entrou em minha casa.
-Nas minhas não fica com certeza, vocês que se decidam! - falei, e pela primeira vez após duas semanas eu próprio notei alguma vida nas minhas palavras.
-Ah, se esquivando de novo, maninho? Por causa disso devia ser você mesmo, hoje! - sorriu a Mariana.
-Eu tou falando sério, só dá entre vocês, eu não vou ficar pra jantar!
-Quê? - perguntaram os dois, surpresos.
-Já tomei a minha decisão. Tou indo agora até Londres pra falar com a Mónica, vou só ligar pró Mister avisando.
-Tá falando sério, Rodrigo? - perguntou a minha irmã, e quase notei um brilho no olhar dela.
-Só podes estar a brincar... - murmurou o Rúben.
-Tou falando sério, sim. Rúben, eu sei que você não concorda, mas, é como a minha irmã me falou, todo mundo merece uma segunda oportunidade. Eu vou dar pra ela a hipótese de se explicar, e depois eu averiguo se é verdade ou não, se eu acredito ou não. - Ele me olhou, meio avaliando a situação.
-Se te vai fazer feliz, ou pelo menos tirar-te dessa angústia, vai. Mas corre, já não aguento ver essa tua cara de enjoado todos os dias! - acabou rindo. Eu ri também e subi as escadas correndo até meu quarto e depois de ligar pró Mister, que me concedeu uma semana pra tratar do assunto, embora eu não precisasse tanto tempo, peguei meu saco desportivo e coloquei umas mudas de roupa e outras coisas essenciais, caso acabasse resolvendo as coisas e ficando tudo bem entre a gente e sai do quarto, descendo de novo as escadas a correr.
-Vou embora gente! - anunciei, e consegui dar um breve sorriso pra eles.
-Sem comer, Rodrigo? Leva alguma coisa, pelo menos!
-Eu não consigo pensar em comer agora, maninha! Só quero ir embora rápido! Mas não se preocupa que se eu ficar com fome eu como!
-Tá bom, então. Boa sorte! E me liga, hein!
-Pode deixar! - respondi, me virando para sair da cozinha.
-Mano, boa sorte.
-Obrigado, Rúben - agradeci, e finalmente sai de casa.

Até sentar dentro do avião a minha cabeça parecia que tava girando e girando, me deixando tonto quando eu parei e consegui voltar a pensar com calma. Ficar tonto assim era o efeito da falta de alegria dessas duas semanas. Eu não tava alegre de novo, mas tava... com esperança! E só de imaginar que ia voltar a tar tão perto dela de novo, me arrepiava. E era isso que eu queria! Eu queria voltar a sentir! Coisas boas, coisas que fizessem o meu coração acelerar, o meu estômago remoer de ansiedade! Tava sentindo isso agora, e só pedia mais e mais! Pedia voltar a sentir como antes disso, voltar a viver de novo, com os motivos que vinha tendo desde o inicio de Dezembro! Tentei acalmar a euforia que reinava dentro de mim e fechei os olhos, esperando que essa viagem terminasse logo.

E finalmente tava na porta delas. Era agora. Respirei fundo antes de tocar na campainha. E segundos depois tinha ela na minha frente, de novo. Os dois ficámos paralisados, olhando ansiosamente um pró outro, sem falar uma palavra.

-Rodrigo? - escutei a Andreia perguntar, um pouco atrás da Mónica. A intervenção dela acabou com o nosso estado estático.
-É. Eu preciso conversar com a Mónica - falei, olhando depois prá Mónica. Reticente e meio atrapalhada ela me deu passagem pra dentro de casa.
-Como é que estás? - me perguntou de repente a Andreia.
-Espero ficar bem daqui a pouco.
-Não vieste acabar as coisas? - me perguntou, ao que eu fiquei surpreso. Ela tava mesmo perguntando isso? Não era normal. Olhei de relance prá Mónica e ela parecia se retorcer esperando a minha resposta, e ostentando desagrado e desconforto perante a pergunta da melhor amiga.
-Não, vim dar a oportunidade de ela se explicar.
-Ah - falou a Andreia, secamente e de má cara, se sentando de seguida no sofá.
-Tá tudo bem? - perguntei, não conseguindo mais levar essa atitude dela.
-Está. Só não esperava que duvidasses da palavra do Rúben e muito menos viesses aqui ter com ela, quando os treinos e os jogos já voltaram.
-Eu não duvido nem deixo de duvidar do Rúben, eu acredito que ele não tem motivos pra me ter mentido quando falou comigo, mas também tenho consciência que apesar de tudo a Mónica tem direito a se explicar, tando  certa ou errada.
-Como queiras, só não digas que ninguém te tentou poupar à dor. - Levantei a sobrancelha assim que ela terminou a frase, sem tirar os olhos da televisão. O que é que tá havendo com ela? Aquela não parecia, de todo, a mesma garota que eu tinha conhecido e com quem havia convivido esse último mês. Decidi deixar pra lá e seguir com o mais urgente.
-A gente pode falar, sozinhos? - perguntei prá Mónica, olhando de novo ela, que tinha ficado calada e quieta junto das escadas.
-S-sim - meio que gaguejou. - Podemos ir para o quarto, ou queres falar na cozinha?
-No quarto tá bom - respondi, olhando de relance a Andreia. Ela parecia diferente, e pela maneira que ela tinha falado eu não queria que ela tivesse tão habilitada pra escutar a nossa conversa. Subi atrás da Mónica até ao quarto e assim que a gente se encontrou lá dentro eu fechei a porta e me virei pra encarar ela, que tinha ficado de pé. Parecia tão desajeitada, tão... insegura e temerosa. Decidi começar de uma vez. - Bom, você ouviu porque é que eu vim aqui, por isso, é isso, eu vou escutar você. - Ela se sentou na beira da cama, me olhando.
-Queres que comece por onde? - perguntou. Eu me sentei na frente dela, na beira da cama da Andreia.
-Bom, eu tenho que perguntar pra você... O Rúben pegou mesmo você e o seu melhor amigo se beijando?
-Sim. - Assim que ouvi a resposta cerrei o maxilar, tentando me conter. A resposta dela me doía mais do que quando o Rúben me ligou contando. - Não Rodrigo, por favor, não fiques assim, ele percebeu mal as coisas.
-Me explica então como que foi - respondi, soltando pequenas faíscas de mágoa.
-O Rúben viu, mas não era um beijo entre nós, foi ele que me beijou. - ela fez uma pausa, esperando se eu ia falar ou não, e eu permaneci no silêncio. - Ele pediu-me conselhos acerca de uma colega dele que ele dizia que gostava dele, e eu dei, mas, depois de o Rúben ter ido ligar-te eu discuti com o Zach. Ele inventou essa história toda, disse que foi para se aproximar mais ainda de mim e tentar conquistar-me, porque nunca me tinha esquecido e não estava disposto a deixar de lutar só porque eu te tinha ati. Ele tinha ciúmes, porque ele conheceu-me primeiro, apaixonou-se primeiro e depois vieste tu e eu correspondi-te a ti e não a ele.
-O cara ficou loco! Se ele é seu melhor amigo ele devia respeitar, mesmo te amando.
-Ele era o meu melhor amigo. Eu não vou e não quero voltar a vê-lo.
-Mas espera! O Rúben falou em sinais evidentes... - procurei me esclarecer.
-Sinais que eu burra ao não perceber antes que tinha de estabelecer limites entre nós!
-Que sinais?
.Para mim não eram coisas desrespeitosas, mas eu ia, no exato momento em que ele me beijou, conversar com ele acerca dos limites, porque eu precisava dele, para me sentir bem comigo própria e para que o que aconteceu não viesse a acontecer, mas fui tarde.
-Ele que soube bem se aproveitar.
-Porque eu deixei! Eu sei que a culpa disto também é minha, em parte! É minha porque eu fui demasiado inconsciente para perceber desde o inicio que as coisas não seriam tão fáceis assim, a partir do momento em que vos apresentei e o deixei na minha vida com a mesma normalidade anterior! - Ela se levantou, alvoraçada, e já chorando. Me caia tudo quando eu via ela chorar.
-A culpa também foi minha então! Que tipo de namorado fica descansado com uma amizade assim sabendo que o melhor amigo da namorada é apaixonado por ela também? Eu nem me preocupei com isso, eu só aceitei! - me levantei também pra voltar a olhar o rosto dela.
-Para de tentar culpar-te numa coisa que não tens culpa! Tu não te preocupaste porque confiavas em mim, era isso que eu te pedia, o que tu me pediste também! Era com isso que funcionávamos principalmente, porque a distância obrigava-nos a adquirir uma confiança ainda maior! E eu... eu desiludi-te... Assim como desiludi o Rúben, que me espancou com todas e possíveis palavras que me arrancaram socos no coração, desiludi a Andreia, que nem sequer me quis ouvir, que já não me conhece, que... já não é a minha melhor amiga... - ela tentava prender os soluços que rompiam da sua garganta, mas as lágrimas abundantes não paravam. Fiquei observando ela, durante uns segundos, totalmente despedaçada, sofrendo, segurando um coração ainda mais partido que o meu tinha ficado. Um amor dói, um amor pode matar o coração da gente, e ai você pisa ainda mais o músculo já inválido com pés de pessoas que faziam parte do seu mundo, pessoas que eram muito pra você, seus amigos, mais família que outra coisa. Eles te pisam e espezinham de novo, matando mais ainda aquilo que já morto estava... Era aterrador. E eu pensando que eu era o único que tava sofrendo muito!
-Você não me desiludiu, eu só pensei que tudo ia se repetir, e eu não ia aguentar. Eu encontrei a garota que me fez acreditar de novo, que me fez sonhar de novo, a garota que eu já sonhava ter no meu futuro, imaginava como a mulher da minha vida, e de repente acontecer uma coisa dessas... me deixou com medo. Mas eu já botei tudo pra trás das costas, eu vou fingir que nada disso aconteceu, vou esquecer, e vou agarrar você com toadas as forças que eu tenho, vou ajudar você a recuperar as suas e a gente vai seguir e ser feliz, como a gente tá destinado a ser! - me aproximei dela, e ela me olhava, tão expectante e ansiosa quanto tava quando abriu a porta pra mim.
-Isso significa que...
-Significa que eu te amo, mais que a mim próprio, e que eu quero continuar a ser feliz do seu lado! - interrompi ela e segurei seu rosto tomando um beijo que já tava ansiando desde que havia tomado consciência que ia tar de novo na frente dela.
 
 

Após o beijo a gente abraçou com força, chorando os dois. A dor dessas duas semanas tava caindo, tava se esfumando. Ela tava de novo nos meus braços. Tava tudo bem. Agora o meu mundo ia ficar perfeito de novo. Seguindo o abraço se sucederam muitos mais beijos e carinhos que os dois já tavamos sentindo mais que falta.

-Não gostei nada que tivesses perdido a titularidade - comentou, depois de a gente se ter deitado na cama dela, muito abraçados.
-Quando eu chegar lá eu recupero!
-Espero que sim!
-Vou sim! Agora eu tou me sentindo invencível! - ri, ao que ela me acompanhou com uma sonora gargalhada.
-Você não sabe a saudade que eu tive disso!
-Do quê?
-Da sua gargalhada. Eu nem sabia mais o que era sorrir.
-Nem quero imaginar-te sem um sorriso no rosto! Deves ficar horrível! - sorriu, brincando.
-E você não ia gostar mais de mim se eu fosse horrível? - brinquei também.
-Tosco, para mim tu és lindo de todas as maneiras! Eu só não queria imaginar-te sem um sorriso, ainda para mais sabendo que a falta dele se devia a mim.
-Mas agora já passou, já voltou tudo ao normal! Tá vendo esse sorriso no meu rosto agora? Não tem nem fim!
-Nem tudo voltou... - suspirou, descaindo o sorriso.
-O que é que ainda não tá no lugar?
-A Andreia.
-Pois é! Ela tá esquisita pra caramba!
-Comigo, não é contigo.
-O que é que aconteceu?
-Ela ficou do lado do Rúben.
-É o namorado dela, e ele viu, e não tinha motivos pra tar mentindo sobre o que viu...
-Eu sei, e eu não a censuro por optar pelo partido dele, o que u não consigo aceitar é o facto de a minha suposta melhor amiga não vir sequer ter comigo e tentar perceber, ou ouvi-me, mesmo que não acreditasse, mesmo que escolhesse ficar com o que o Rúben disse e com os tais sinais evidentes, seria suposto ela ir ter comigo. É o que os melhores amigos fazem, mesmo que o outro esteja errado, ouvem, não significa que tomem partido, mas ouvem.
-Mas vocês tão assim só porque ela não te escutou?
-Não propriamente.
-Então?
-Lembraste da confiança que eu falei entre nós? Isso valeria para nós também, mas ela descuidou essa parte, ela parece que já não me conhece, parece que... para ela eu sou quase uma desconhecida.
-Vocês se falam, se quer?
-As coisas básicas, cá de casa. Mas de vez em quando ela suborna o assunto com pedrejadas sobre o que aconteceu.
-Nem parece ela...
-Para mim já não é ela. Ela já não é a minha melhor amiga. A essa perdia-a, num abrir e fechar de olhos.
-Calma meu amor, as coisas vão acabar por se resolver entre vocês. - ela não respondeu. - Agora tenta viver o dia-a-dia normalmente, quando precisar me liga... Eu vou tar do seu lado.
-Obrigada - agradeceu, sorrindo docemente.
-Me dá um beijo que paga - sorri. Ela riu e me beijou.

 - E por falar em ligar, eu tenho que ligar pra minha irmã pra dar noticias pra ela e pró Rúben.
-O Rúben sabe que vieste?
-Sabe, porque^?
-Por nada.
-Depois cê me conta o lance do Rúben também - falei, antes de ouvir o primeiro toque de chamada do telefone da minha irmã.