(visão Andreia)
Depois de uma
manhã de aulas e de uma tarde a fazer trabalhos, tirei a noite, depois de
jantar, para pensar, a ouvir música. Sentei-me na cama, de olhos fechados, mas
pouco tempo depois ouvi o meu telemóvel tocar. Era o Rúben. Respirei fundo.
-Estou?
-Andy.
-Rúben.
-Chegaram bem?
-Sim.
-Então e como é
que correu o dia hoje?
-Normal. Tivemos
aulas de manhã e à tarde matei-me em trabalhos de casa.
-Que sorte… -
ironizou.
-Já me habituei.
Houve silêncio
de ambos os lados da linha.
-Eu queria
pedir-te desculpa pelo beijo de ontem… - disse-me ele.
-Tudo bem. Já
passou.
-Mas eu tinha de
te pedir desculpa.
-A Inês deixa-te
desorientado e eu é que levo por cima, não é? – disse eu, tentando aliviar um
pouco.
-Pois, foi isso,
desculpa… - mas a voz dele pareceu meio desanimada.
-Então e vocês,
tiveram treino hoje?
-Sim. Hoje à
tarde. Mas o mister foi bonzinho.
-Boa.
-Tens a certeza
que está tudo bem, linda?
-Sim, porquê?
-Pareces
distante. Tens a certeza que não ficaste chateada, nem nada?
-Sim.
-O que é que
sentiste quando te beijei? – perguntou ele repentinamente. Engasguei-me, sem
fazer barulho, e ainda bem, porque não queria que ele tirasse ideias das minhas
respostas.
-Foi esquisito,
Rúben. Quer dizer, tu eras o meu melhor amigo.
-Já não sou? –
perguntou, meio desconfiado, mas pareceu-me soar uma certa espécie de esperança
na sua voz.
-Não sei. Quer
dizer, não sei como é que nós ficamos a partir daqui…
-Como é que tu
queres ficar? – hesitei. – Andreia?
-Não sei, Rúben.
Só sei que não te, não quero perder a tua amizade…
-Sabes que nunca
a perderás, nem a mim, linda.
-Obrigada. – Do
outro lado ouvi uma pequena gargalhada.
-Então, sendo
assim, achas que voltas cá na mesma, nas férias de Natal?
-Obviamente que
sim, Rúben. Que pergunta!
-Boa… - notei
satisfação na sua voz. – Ainda bem que resolvemos isto.
-Não podia ficar
pendente…
-Claro que não.
-Bem, eu preciso
de ir dormir. Amanhã de manhã tenho aulas.
-Está bem,
linda.
-Até amanhã.
-Espera! Posso-te
dizer uma coisa?
-Claro, diz.
-Posso juntar
uma palavra no vocabulário que costumo usar contigo?
-É pá, o que é
isso Rúben?
-Posso ou não
posso?
-Pronto, podes.
-E prometes que
não vais ficar chateada?
-Não sei -
respondi, desconfiada.
-Promete lá.
-Está bem.
Prometo.
-Então, a
palavra é… - hesitou. – Amo-te.
-É o quê? -
engasguei-me.
-É o que eu
sinto. Sabes que eu te adoro.
-Sim, sei. Mas
não achas que a palavra tem um peso muito grande, por mais que me adores e eu a
ti?
-Nada é grande o
suficiente.
-Tu és.
-Eu o quê?
-Aah, eu acho
que não preciso de palavras grandes. Eu sei que gotas muito de mim
-A partir de
agora, amo-te é a palavra correcta e que vou passar a dizer-te sempre.
-Hm…
-Bom, precisavas
de ir dormir, não é?
-Aah, sim.
-Ok, então eu
ligo-te amanhã.
-Está bem.
-Beijos.
-Beijos.
-E, amo-te.
-Até amanhã –
disse eu rapidamente, desligando em seguida.
A Mónica tossiu
disfarçadamente ao entrar no quarto.
-Estavas a ouvir
a conversa, não estavas? – perguntei.
-Não fiz por mal
– respondeu ela, meio envergonhada.
-Está bem.
-Mas, já agora.
-Ui, o que é que
queres agora?
-Achas que
consegues continuar a estar com o Rúben como antes?
-Como antes não
vai ficar. Mas pode ser que não seja muito difícil. Agora ainda não se notou
porque foi a primeira vez que falámos depois do, daquilo que aconteceu, mas nós
vamos continuar a mandar bocas. Um para o outro e para os outros. Sim, porque
agora que falo nisso, lembrei-me. – Ela pôs uma cara de quem sabia o que eu ia
dizer mas não lhe agradava muito falar agora, por vergonha ou assim. Abriu a
cama e deitou-se, virando-se para a minha cama. Eu ri. –Eu sabia que andava qualquer coisa entre ti
e o Rodrigo.
-Oh.
-Ah agora estás
com vergonha? No aeroporto não tinhas, não é?
-Oh pá, eu ia
contar-te quando já tivéssemos voltado.
-Porquê? Não me
podias ter dito logo?
-Não. Senão o
Rodrigo ia dizer ao Rúben e aí, em vez de ouvir bocas de um ouvia bocas dos
dois.
-Pois. Sabes que
o Rúben não se cala.
-E tu também.
-Eh, até parece
que mando muitas bocas.
-Podem não ser
tantas como o Rúben, mas mandas.
-Está bem. – O
telemóvel dela tocou. Ela olhou para o visor e sorriu. – Ai o meu Rodrigo… -
suspirei, gozando com ela, enquanto ela se levantava da cama. Mandou-me uma
almofada e saiu do quarto.
VISÃO RODRIGO
-Oi.
-Olá – mi
respondeu ela.
-Acordei você?
-Não. Ainda
estava a conversar com a Andy.
-Desculpa só tar
ligando a essa hora, mas não consegui antes.
-Oh, não faz
mal.
-Então e vocês
chegaram bem ontem?
-Claro.
-E a Andreia?
Como é qui ela tá?
-Bem.
-Tem certeza? É
qui o Rúben não tava muito concentrado no treino, hoje.
-Sim, tenho.
Pois, mas ele já deve estar melhor agora. Ele e a Andreia estiveram a falar à
bocado e está tudo bem.
-Qui bom. Depois
eu falo com ele, então.
-Sim, depois ele
expõe-te a perspectiva dele – riu ela.
-Eu acho qui as
perspectivas deles não são muito diferentes, não. Acho qui são muito parecidas,
eles qui não querem ver. Quer dizer, ela…
-O quê?
Explica-me lá isso.
-Eu explico, mas
só si você não disser nada prá Andreia. Eles qui vão desenvolvendo à medida
deles.
-Está bem, eu não
digo.
-Mas não diz
mesmo.
-Não, não digo.
Se é para ajudá-la e fazê-la feliz eu não digo.
Sorri. Elas
gostavam muito de cuidar uma da outra. Melhores amigas de verdade.
-O Rúben gosta
dela. E não é brincadeira nem confusão da cabeça dele. Ele sabe o qui ele quer.
E nesse caso é ela.
-Eu sabia! A
Andreia é que é um bocadinho teimosa, mas eu vou ver se dou um jeito para ela
admitir isso ao Rúben. Sem comprometer nada, prometo. Eu já estava a tentar
fazer isso antes, por isso.
-Tá bom. Agora
vamo deixar eles. Vamo falar da gente. Já tou morrendo de saudade.
-Eu só vim
embora ontem – riu ela.
-Pra mim é
muito. Nem devia ter ido.
-Sim, sim. Não és
tu que perdes as aulas. Olha se fosses tu a faltar aos treinos.
-É diferente.
-Pois, pois é. Tu
nem faltavas. O mister não deixava.
-Tá bom, vai, cê
tem razão. Mas eu não aguento ficar longe de você. Si eu pudesse, nesse momento
tava abraçando e beijando você.
-Eu também, mas
não dá. E é bom começarmos a habituar-nos porque agora são duas semanas, mas
depois vai ser mais tempo.
-Muito mais, né.
Isso ainda é só o primeiro ano…
-Não vamos falar
disso, por favor. Daqui a duas semanas já estou aí outra vez. E fico quinze
dias, não três.
-É, cê tem razão.
Vamo aproveitar aquilo qui a gente vai tendo. Desculpa.
-Oh, não tens de
pedir desculpa. Por mim estava contigo agora.
-Tou deitado na
cama, ti esperando. Vem correndo – ri.
-Hmm. Se eu
pudesse… Mas bom, tenho de ir dormir. Amanhã tenho de me levantar cedo.
-Tá bom. Ti vou
ligando, então.
-Sim. Para
passar mais depressa.
Eu ri.
-Ti amo.
-Também te amo.
-Beijo.
-Beijinhos.
Desliguei e
coloquei o telefone na mesinha de cabeceira. Fechei os olhos e fiquei pensando
nela. Em todos os momentos qui passei com ela, desde o primeiro olhar até à última
palavra qui tinha ouvido da boca dela, à poucos segundos atrás. Adormeci
pensando nela e pensando qui essas duas semanas iam passar voando.
-Rapaziada,
vamos lá começar a correr! – disse o mister prá gente.
-Rodri! – chamou
o Rúben, chegando ao meu lado.
-Oi.
-Então, já sabes
quando é que elas vêem?
-Não. Cê sabe?
-Não. Falei com
a Andy ontem e ela disse que não sabem se vêem amanhã ou na segunda. Depende
das coisas lá na Faculdade.
-Pois… -
respondi, meio desanimado.
-É pá, eu sei
que as saudades já apertam muito, mas no máximo faltam três dias. Já faltou
mais.
-Eu sei. Mas tão
apertando mesmo. – Ele riu. – Vai mi dizer qui também não tá rezando pra voltar
a ver a Andreia.
-Claro que sim.
-Então. – Ele sorriu.
– Mas não é só isso.
-Então é o quê?
-Eu ia levar ela
na Gala de Natal do Benfica, mas si elas não chegarem… A Gala é já amanhã…
-A Gala… É isso!
Ai, obrigado puto!
-Porquê? Qu’qui
cê tá pensando?
-Vou levar a
Andreia comigo. Eu sei que ela vai dizer que sim.
-Muito
convencido você, não tá não?
-Não.
-Tá bom. Então,
desculpa falar nisso, mas e a Inês? Vocês voltaram a conversar? É qui eu não
sei si ela vai gostar muito de você levar a Andreia e não ela na Gala.
-Da Inês eu
trato depois.
-Cê é qui sabe.
-Oh suas Amélias!
Menos de língua e mais dos pedais! – gritou o mister.
-Claro mister! –
riu o Rúben, acenando com a cabeça.
-Sempre o mesmo
você, hein.
-Claro que sim,
então. Temos de rir seja qual for a situação. Só vivemos uma vez, amigo.
-É isso aí.
-Olha, queres ir
almoçar lá a casa?
-Pode ser.
-Ai é? Boa, então
fazes tu almoço.
-Cê não quer
mais nada não? – perguntei rindo.
-Eu lavo a
louça.
-Ah, assim tá
melhor!
Espero que
tenham gostado de mais este capitulo e já sabem, deixem sempre a vossa opinião,
que é extremamente importante para mim! :D
Beijinhos
Mónica