Para minha sorte, começou a chover. E muito. Vi as luzes de um carro atrás de
mim.
-Mónica! - Reconheci a voz, mas
não olhei. - Mónica! - Voltou o Rodrigo a chamar-me. - Entra no carro!
-Não.
-Entra no carro! Tá chovendo! Cê
quer fica de cama? Entra no carro! - disse ele, acompanhando o meu passo com o
carro.
-Não.
-Por favor, entra nesse carro!
-Já disse que não. Podes ir-te
embora.
-Entra no carro!
-Não.
-Cê tá querendo qu'eu vá aí
buscar você, né?
Bufei e acabei por entrar no seu
carro.
-Posha, você é mesmo teimosa! -
disse ele, assim que fechei a porta do passageiro.
-Não me chateies - respondi. Ele
sorriu, enquanto abanava ligeiramente a cabeça negativamente.
-Posso fazer uma pergunta pra
você? - perguntou-me, pouco tempo depois.
-Não.
-Tá bom. Porqui é qui você não
atendeu as minhas chamadas, novamente?
-Eu disse que não podias.
-Tá. Agora mi responde.
-Não tive tempo.
-Não teve tempo ou não quis ter?
-Não tive tempo.
-Ou não quis mesmo atender?
-Fogo, já disse que não pude!
-Eu acho qui você não quis...
-Deixa-me... Chato...
Ele sorriu.
-Agora, outra coisa.
-Não, não podes perguntar nada.
-Porqui é qui você foi embora
hoje cedo sem dizer nada?
-Eu disse que não podias
perguntar nada. Não quero ouvir.
-Mas eu quero ouvir a sua
resposta. Pode ser?
Calei-me e olhei pelo vidro,
enquanto a chuva caía fortemente, e vi um relâmpago ao fundo. Ele não disse
mais nada, e de repente apercebi-me que estávamos a entrar no seu pátio, em
direcção à garagem.
-Porque é que eu vim para aqui?
-Não pode ficar aqui hoje?
-Não.
-Porquê?
Calei-me uns segundos.
-Leva-me para a minha casa -
pedi, mais parecendo uma exigência.
-Agora não levo - respondeu-me
ele, olhando-me directamente.
-Ok. Não levas, então vou
apanhar um táxi - respondi, saindo do carro, e voltando consequentemente a
ficar de baixo da chuva.
-'Pera aí! - disse ele, tirando
o cinto aflitivamente e correndo atrás de mim. Parou mesmo à minha frente,
impedindo que eu avançasse. - Cê não vai pra lado nenhum.
Olhei para ele querendo dizer ''
Sai da minha frente! Deixa-me passar!''. Desviei-me para o lado direito, mas
ele seguiu-me e segurou o meu braço.
-Não faz assim. Não foge de
novo, por favor...
-Levas-me a casa ou vais
deixar-me passar?
-Não faz isso! Porqui é qui você
foi embora hoje de manhã? Cê tem vergonha de mim? Si arrependeu de ter dormido
comigo? - perguntou-me, segurando os meus dois braços.
-Vergonha?! Eu... Hã?! Não...
Eu...
-Então qui foi?! Qui é qui há de
errado? Fala. - Fixei o olhar no banco do jardim que estava no meu campo de
visão, sem responder. Quando falou, o seu tom era mais delicado. - Porqui é qui
você não fala de uma vez? Porqui qui é qui você não fala aquilo qui eu sei qui
você quer falar? Porqui é qui você não diz qui mi ama como eu amo você?
-Está bem! - explodi. Ele ficou
a ouvir-me com ar sério mas completamente apaixonado pelas minhas palavras. -
Está bem. Eu amo-te. Amo. Amo muito. Era isso que querias ouvir? - Ele sorriu.
- Mas, eu não ... Nós não podemos...
-A gente não pode o quê? Eu ti
amo, você mi ama , você acabou de falar mais qui uma vez. O qui é qui a gente
não pode? Porquê?
-Por causa do Zach!
-Porquê? Mas, calma, ele não é o
seu melhor amigo? Qui é qui ele tem a ver com a gente?
Tentei respirar fundo.
-Ele também gosta de mim.
-Também?
-Sim. Ele falou comigo. Ele
beijou-me...
-E ai você focou confusa... -
disse ele parecendo triste.
-Não! Não é nada disso! Quer
dizer, sim, no principio sim. Ele beijou-me, e depois tu, eu fiquei confusa,
sim. Mas depois não... Eu não quero magoá-lo...
-A gente não escolhe quem ama.
Ele também deve saber isso.
-Eu sei. Mas eu não quero
magoá-lo. Ele é o meu melhor amigo. Não quero perdê-lo.
-Eu posso ti ajudar. Eu vou com
você contar pra ele. E eu percebo o qui ele vai dizer, si for preciso eu falo
com ele também - disse ele com um sorriso.
-Não...
-Oi! - pegou no meu rosto e
fez-me olhá-lo nos olhos. - Eu disse qui não ia desistir de você. Não desisti e
parece qui agora eu ganhei, por isso, agora, deixa eu ti ajudar.
Disse-me isto olhando-me
fixamente e em seguida conseguiu roubar-me um beijo. Depois abraçou-me e ficou
a olhar para mim com um sorriso meigo. De repente, ouviu-se um travão. Eu
assustei-me e dei um salto. Ele desmanchou-se a rir.
-Isso tá tudo sendo muito
romântico, mas eu consigo ser romântico sem ficar doente... - comentou. Eu
sorri. - Vamo pra dentro? - sugeriu com um leve sorriso.
-Sim.
Corremos até à porta de entrada
da casa e entrámos. Estávamos completamente encharcados e a molhar tudo. Ele
tirou o casaco e pô-lo no chão à entrada. Despi o meu casaco também. Felizmente
a camisola não estava molhada. Mas era a única coisa. Quando olhei para o
Rodrigo, ele estava sem camisola, descalço e a tirar as calças.
-O que é que estás a fazer? -
perguntei, sem no entanto deixar de os deslumbrar.
-Tirando a roupa pra não molhar
a casa. Cê podia fazer o mesmo - respondeu, aproximando-se de mim. - Vamo tomar
um banho quentinho e depois a gente conversa.
Ele estava tão perto de mim que
já sentia dificuldade em respirar.
-Eu vou precisar de roupa... -
acabei por dizer.
-Eu ti dou - sorriu. - Cê pode
ir pró banheiro do meu quarto, eu tomo cá em baixo. As toalhas tão no armário.
Deu-me um beijo e seguiu para a
casa-de-banho do andar onde estávamos. Eu subi as escadas e entrei no seu
quarto. Estava arrumado e a cama estava feita. Assim que fechei a porta,
encostei-me a esta e inspirei o seu cheiro, que impregnava todo o quarto.
Deixei a porta e fui para a casa-de-banho, abri o armário e tirei uma toalha.
Sentia-me tão preenchida que parecia demasiado para mim. Desde que tinha
conhecido o Rodrigo, até mesmo antes, que sonhava em sentir o seu beijo,
desejava o seu toque, ansiava ouvir o tom da sua voz, e agora, estava na
casa-de-banho do seu quarto, da sua casa. Estava mesmo ali e já tinha tido tudo
com que sonhava. Depois de tomar banho, enrolei-me na toalha e saí para o
quarto. Mal abri a porta, o Rodrigo entrou no quarto também, apenas com a
toalha enrolada na cintura. Os seus traços eram demasiadamente perfeitos para
mim. Fiquei a olhá-lo, extasiada.
-Qui foi? - perguntou-me com um
pequeno sorriso a iluminar a sua cara.
-Ahm, nada. Eu... Ainda não
tenho a roupa...
-Pode procurar o qui você
quiser.
-Não. Dá-me tu.
-Tá bom. Qui é qui cê quer?
-Uma coisa qualquer.
Ele abriu um armário.
-Hm. Toma essa. Acho qui vai
ficar bem pra você - disse ele, segurando uma camisola vermelha.
-É melhor atirares para a cama
que ela apanha mais que eu.
Ele riu-se e atirou a camisola
para a cama. Depois veio ter comigo para me dar uns dos seus boxers, mas
colocou um braço sobre a minha cintura e puxou-me para si.
-O que é que vieste aqui fazer?
– perguntei.
-Buscar as minhas roupas.
-E ainda não as tiraste?
-Já. Mas eu disse qui a gente ia
falar… - respondeu ele, tentando fazer mais pressão sobre mim.
-Pois, pois vamos… Mas primeiro
vais-te vestir! – Disse-lhe eu, soltando-me das suas mãos para sair de tão
perto do seu corpo. Ele deu uma gargalhada.
-Tá bom. Mi espera aqui – pediu
ele, falando junto do meu ouvido, enquanto passava por trás de mim.
Assim que ele fechou a porta
vesti-me e em seguida deitei-me na sua cama, a pensar. Sentia-me desperta com o
Rodrigo a lutar por exaltar toda uma mistura de sentimentos dentro de mim, mas
não conseguia deixar de pensar no Zach. Eu não queria magoá-lo… De repente, o
Rodrigo estava deitado ao meu lado, e pôs-se a olhar para o tecto como eu.
-Qui foi? – perguntou-me.
-Tenho de pensar numa maneira
para falar com o Zach.
-Não si preocupa agora. Eu já
disse qui falava com ele, com você.
-Mas o que é que vou dizer-lhe?
-A verdade. Eu acho qui ele vai
perceber. Quer dizer, ele sabe qui a gente não escolheu si apaixonar. Ele
também não escolheu gostar de você, né?
-Não é assim tão fácil… - disse
eu, começando a levantar-me para sair da cama. Ele percebeu, então colocou o
braço esquerdo do meu lado direito e impediu-me de sair.
-Não vou deixar você fugir outra
vez – disse-me. Eu deixei cair novamente a cabeça na almofada enquanto ele
pairava por cima de mim. – Eu sei qui não é fácil, mas você vai ter qui contar
pra ele na mesma. Eu vou com você, a gente fala com ele e ele vai entender. É o
seu melhor amigo, né? Então ele vai perceber.
Acenei que sim com a cabeça. Ia
ser difícil, mas ia ter de dizer-lhe. Entretanto, o Rodrigo, ainda a pairar
sobre mim, baixou-se um pouco, de modo a unir os seus lábios aos meus. Depois
deixou-se cair suavemente por cima do meu corpo e desceu as mãos até ao fundo
das minhas costas, puxando-me para juntar ainda mais os nossos corpos, como se
estar encostado a mim não chegasse. Beijei-o, e desta vez sem nem cuidado e
coloquei as minhas mãos nos seus ombros, afastando-o devagar para o lado, de
modo a dar-me espaço para me levantar. Ele ficou a olhar para mim como que à
espera de uma explicação. Saí da cama e puxei a camisola para baixo,
ajeitando-a.
-Tenho fome – disse eu com uma
gargalhada estúpida. Ele riu, desacreditado e passando a mão pela cara.
-Eu tava ti beijando e você
levanta pra dizer qui tá com fome. Você não existe…
-Oh… - segurei as pontas da
camisola e sentei-me na cama. – Não reclames1 Eu vim para tua casa, tomei banho
aqui, vi coisas que não devia ter
visto, deitei-me ao teu lado na cama e beijei-te, por isso, agora vamos comer!
-Reclamo sim! Eu tava ti
beijando e você tava pensando em comida! Mas tá bom, vamo comer, então – disse
ele a rir. Levantou-se e abriu a porta do quarto. Levantei-me e ele deixou que
eu saísse primeiro.
-Então e o que é que eu posso
esperar dos teus armários? – perguntei, enquanto nos dirigíamos para a cozinha.
-Nada. Tenho qui encher eles.
-Hm – entrámos na cozinha e
avistei no meio da mesa uma fruteira perfeita. –Isto é a sério? – perguntei,
referindo-me às maçãs que estavam tão perfeitas que pareciam de plástico.
-Não sei. Experimenta trincar
pra ver.
-Parvo, pá! – ri, depois de
tirar uma maçã e dando-lhe um encontrão.
-Cê gosta.
-Cala-te e vai comer!
-Eu não tenho essa fome.
Lancei-lhe um olhar que pedia
que não começasse. Ele começou a andar na minha direcção e rodeou a minha
cintura firmemente.
-Essa camisola fica mesmo bem em
você.
-Deixa a camisola em paz.
-Ela eu deixo, agora você…
-Mas tu deixas-me comer?
-Despacha.
-Estás com a pressa toda.
-Eu sou apresado.
-Desapressa-te. – Ele olhou para
mim, largou-me e encostou-se à bancada em frente da bancada onde eu estava
encostada. – Não vais mesmo comer? – perguntei, meio admirada.
-Não.
-Tens a certeza?
-Sim. Porquê?
-Estás sempre com fome…
-Agora não.
-Ok – respondi, encolhendo os
ombros e trincando a minha maçã. Comecei a balançar os pés, sentada em cima da
bancada, e ele riu-se. – O que foi?
-Cê parece uma criança – riu.
-Vê lá se queres comparar –
respondi, no entanto estava a brincar.
-Até parece – sorriu.
-Até parece? Então, vocês
portam-se como uns putos e eu é que sou a criança – ri.
-Tá bom. Agora vamo deixar desse
papo. Já terminou?
-Não.
-Depois eu qui tenho de
desapressar, né? Cê tá aí há um montão de tempo.
-Espera.
-Cê tá mi pondo doido de tanto
esperar!
Eu ri-me.
-Pois. Acontece… - gozei a rir.
-Ai você tá gozando comigo? –
voltei a rir. – Não faz isso comigo. Já esperei tempo demais – continuei a
sorrir. Ele veio ter comigo, pousou as mãos nas minhas pernas e pediu-me um
beijo. Beijei-o rapidamente. – Cê tá mi provocando… - suspirou ele com um
pequeno sorriso.
-Eu? Não.
-Tá sim.
Eu fiquei a olhá-lo com um
pequeno sorriso gozão. Ele ficou a olhar para mim e de repente, tirou-me de
cima da bancada e pegou-me ao colo.
-Então?! – reclamei.
-Não vou esperar mais. Cê tá mi
levando pró limite e se eu chegar lá, amanhã não vou levantar cedo.
-Vê lá o que é que vais fazer!
Olha que eu sou uma criança! – disse eu, tentando não me rir.
-Pode ser uma garotinha, mas
você mi tira do sério.
-Ah, então tu tratas assim todos
os que te tiram do sério?
-Assim, só você.
-Sabes muito.
-Você ainda não viu nada.
Entrámos no seu quarto e ele
pousou-me em cima da cama. Com as mãos a rodear o seu pescoço, puxei-o e
beijei-o energicamente. As suas mãos acentavam firmemente no meu corpo.
-Depois eu qui sou apressado,
né? – disse ele a rir, despindo a camisola.
-Não sou eu que já estou a tirar
a roupa – ri.
-Culpa sua – sorri. – Mas você
parou de mi beijar porquê?
-Tu é que paraste.
-Tá bom. Agora vem aqui.
Voltei a beijá-lo e ambos nos
envolvemos em abraços e beijos longos. Mais tarde o sono acabou por chegar-nos.
Virei-me para ele e encostei-me ao seu peito despido, sentindo e ouvindo o
bater do seu coração.
-Não sei como é que estás tão
quente. Está tanto frio – comentei, já com voz sonolenta.
-Pode si agarrar qui eu ti
aqueço.
-Obrigada.
Ele deu-me um pequeno beijo,
seguido de alguns mais longos. Depois abraçou-me mais, por baixo dos lençóis, e
fechou os olhos.
-Posso dormir sem ter qui mi
preocupar si você vai fugir amanhã outra vez?
-Podes – sorri levemente. –
Prometo que amanhã quando acordares eu vou estar ao teu lado.
-Eu ti amo, sabia?
-Eu também te amo.
Ele beijou-me uma última vez e
pouco depois adormeci.
Espero que tenham gostado de mais este capitulo :D
Desculpem pela demora a publicar, mas não consegui antes :s
Beijinhos, e comentem1 :D
Mónica
fabuloso...
ResponderEliminarquero mais... tou super curiosa para ver o proximo...
continua...